04 de Agosto de 2014

Homilia – 18º Dom. do Tempo Comum - (Is 55,1-3; Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21)

Estamos iniciando o mês de agosto, para nós, católicos, mês vocacional. Cada domingo será dedicado a uma vocação específica (1º domingo, dia do padre; 2º domingo, dia dos pais; 3º domingo, dia do religioso; 4º domingo, dia do leigo), a fim de que possamos tomar consciência de que Deus chama a cada um de nós para colaborar com Ele, dando continuidade a sua ação salvadora no mundo.

Hoje, recordamos a vocação sacerdotal, portanto, o ministério dos padres que são “chamados a prolongar a presença de Cristo, único e sumo Pastor, atualizando o seu estilo de vida e tornando-se como que a sua transparência no meio do rebanho a eles confiado” [...]. Assim sendo, “os presbíteros (os padres) são, na Igreja e para Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a sua palavra com autoridade, repetem os seus gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com o Batismo, a Penitência e a Eucaristia, exercendo a sua amável solicitude, até ao dom total de si mesmo, pelo rebanho que reúne na unidade e conduzem ao Pai por meio de Cristo no Espírito Santo. Numa palavra, os presbíteros (os padres) existem e agem para o anúncio do Evangelho ao mundo e para a edificação da Igreja em nome de Cristo Cabeça e Pastor” (PDV nº 15).

Assim, afirma a doutrina da Igreja, pois, os padres são revestidos de um poder sobrenatural que exige deles tomar consciência de tais verdades, exige deles fazer as renúncias necessárias, esforçando-se para viver conforme a vocação assumida, pedindo a Deus a graça da fidelidade e da perseverança, procurando primar pelo bom testemunho e, devido à fragilidade humana e as exigências próprias do ministério, devem contar com a compreensão, o apoio e a oração dos fiéis.

Meus irmãos e minhas irmãs, para que o padre e todo batizado possa viver coerentemente a sua vocação, deve tomar o exemplo de Jesus como referencial, imitando seus gestos, suas atitudes, seus procedimentos, seu jeito de ser e agir.

Lendo e meditando sobre o Evangelho, aprendemos a ser e fazer discípulos (as) do Mestre.  Por exemplo, a passagem que ouvimos oferece algumas indicações importantes de suas ações que devemos aprender e praticar: Primeiro, a prática da oração. Ele sempre rezava num lugar afastado.

Segundo, a disponibilidade para atender a todos. Jesus nunca se recusa a receber as multidões que vão ao seu encontro.

Terceiro, a atitude de compaixão. 

Assim descreve o texto: “Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (v 14). Esta passagem revela que Jesus percebeu a necessidade imediata dos que o procuravam, a fome; revela que a compaixão é um sentimento divino que leva Jesus a socorrer as pessoas em suas reais necessidades; denota uma sensibilidade muito humana, causada pela constatação da carência do outro ao ser visto; revela que sofrer com; sentir com é se comover interiormente pela dor do outro, é ficar profundamente sensibilizado e afetado pelo sofrimento do outro, dirigindo a atenção à pessoa que clama por misericórdia, é fazer da pessoa, no momento que necessita atenção, o absoluto da vida de modo que ela se sinta acolhida, valorizada, compreendida e envolvida.

O Papa Francisco sonha “com uma Igreja que viva a compaixão de Jesus” e vem indicando que “o padre é um homem de misericórdia e compaixão, como Jesus [...] que está chamado a aprender isto, a ter um coração que se comove”.

Quarto, nos ensina que não devemos fugir dos problemas, mas, enfrentá-los encontrando uma solução. Ao ser alertado sobre a realidade do deserto, ao adiantado da hora e o número grande de pessoas, respondeu: “eles não precisam ir embora. Dai-lhe vós mesmos de comer.”

Quinto, propõe a partilha como solução para atender a necessidade do outro e favorecer a prática da solidariedade e da caridade. Aqui, encontramos uma das ideias revolucionárias da prática cristã: encontrar alternativas capazes de fomentar o exercício da partilha, de não favorecer a dependência e, principalmente, de ajudar o carente a encontrar soluções para seus problemas. Aqui fica claro um apelo à prática da solidariedade e da urgente necessidade de pensar naqueles que são mais necessitados.

Podemos também aprender com o profeta Isaías na primeira leitura, que é importante o dinamismo e a criatividade no desenvolvimento da missão para realizar um processo de conscientização.  Imitando os vendedores ambulantes que mercam suas mercadorias, o profeta convoca o povo faminto, apresentando-lhe a grande novidade: Venham matar a sede, comprar sem ter dinheiro, comer sem pagar, beber vinho e leite à vontade! É o convite feito aos pobres para o banquete da vida e da abundância. É o convite para se desfazer do julgo da dependência e submissão, para experimentar a gratuidade da libertação do fardo econômico dos poderosos exploradores. Continuar na dependência é gastar dinheiro com aquilo que alimenta o consumismo e desperdiçar o salário comprando alimentos que não mata a fome.

Concluímos então que, conforme a nossa vocação, o nosso lugar, a nossa condição na sociedade, devemos proceder de modo coerente procurando dar bom testemunho. Sempre acreditar na possibilidade de conversão pessoal e de mudanças e transformações sociais buscando encontrar soluções para os nossos problemas e dificuldades pessoais sem nunca alimentar o conformismo e o desânimo achando que tudo está perdido.

Ser cristão é estar em plena ação, mas com consciência e convicção de alcançar a vitória. A razão disso é o amor de Deus. O Apóstolo Paulo, revela na segunda leitura a certeza de que nada nos separará do amor de Cristo, nenhuma força superior é capaz de vencer a força do amor. Portanto, o amor doação será sempre o lastro que sustentará a nossa vocação e a nossa ação, dando-nos o impulso para cultivar a perseverança, a fidelidade para caracterizar o nosso agir com compaixão e sem nenhum outro interesse ou exigência.



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