Iniciamos a semana nacional da família, celebrando o dia dos pais. Hoje, certamente, acontecerão muitas homenagens, muitas manifestações de carinho e festas para os pais, mas, deverá ser também, um dia de reflexões sobre a atual realidade ou situação da família; um dia de conscientização e reconhecimento sobre a família enquanto “um dos bens mais precioso da humanidade” (FC nº 1) e da missão dos pais.
Pois bem, constatamos que no ambiente familiar apresentam-se aspectos positivos e aspectos negativos.
Por um lado, percebe-se uma evolução, valorização e reconhecimento das diferenças dos cônjuges, da liberdade pessoal, da dignidade da mulher, da importância da participação da família na vida política e na construção de uma sociedade justa e solidária; de investimentos para melhorar a qualidades das relações interpessoais, educação e formação profissional dos filhos, a distribuição de tarefas nas atividades cotidianas do lar, a participação equitativa do casal nas despesas comuns e tantos outros.
Por outro lado, percebem-se crises diversas: estrutural, existencial, financeira, moral, de identidade, etc.; Problemas difíceis de serem solucionados: drogas, prática de violência, pedofilia, desemprego, infidelidade, alcoolismo, separações de casais, depressão, desequilíbrios emocionais e psicológicos. Há muitas mulheres que necessitam criar seus filhos sem a presença e ajuda do pai, há também casos em que a ausência é da mãe e outra pessoa como a avó, uma tia, vizinha, irmã mais velha ou o próprio pai tenha de assumir a função de cuidar da casa e educar as crianças. São muitos os desafios, por exemplo, as novas concepções de família, extrapolando a caracterização tradicional formada de pai, mãe e filhos.
Mas, conforme a perspectiva cristã, a Família tem algumas características próprias: é uma comunhão de pessoas, imagem da Trindade; primeira escola das virtudes sociais, teologais e de sociabilidade; célula primeira e vital da sociedade; tem originalidade própria; Igreja doméstica, santuário da vida.
Está inserida na Igreja, povo sacerdotal, mediante o sacramento do matrimônio. É uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai.
Assim sendo, o casal cristão tem uma missão especial: de transmitir a vida e de serem educadores – o qual deve ser considerado como missão própria deles –, são cooperadores do amor de Deus criador e como que seus intérpretes, por isso desempenharão seu múnus com responsabilidade cristã e humana ( cf Familiaris Consotio ).
A partir desta realidade e concepção cristã da família, vamos refletir sobre as leituras bíblicas que acabamos de ouvir:
O Evangelho descreve a cena de Jesus caminhando sobre as águas, indo ao encontro dos discípulos que enfrentavam as ondas agitadas do mar da Galileia. Neste episódio, podemos identificar muitos detalhes que são significativos e apresentam diversos elementos simbólicos que sem ferir o sentido teológico do texto, podem ser relacionadas à vida familiar e a seus membros:
O mar com suas profundezas, possibilidades de riscos e tempestades, recorda o mundo dominado pelo mal. A barca atingida pelas ondas, pode simbolizar a família sofrendo as ameaças e as tentações do mundo atual. Ao longe, Jesus vê o desespero dos discípulos, ou seja, dos membros de muitas famílias e vai em socorro deles, caminhando sobre as águas. Gesto simbólico que manifesta a divindade de Jesus. O medo, a escuridão da noite fazem com que os discípulos confundam Jesus com um fantasma, duvidem do seu poder. Os referidos sentimentos podem ser relacionados à falta de coragem para reconhecer, enxergar, enfrentar para solucionar as causas dos desafios e problemas enfrentados no seio das famílias. Como Pedro, não enxergam saídas, tem pouca fé e terminam submergindo num mar de desilusão, de frustração, de decepção.
Assim que Jesus e Pedro subiram no barco, o vento se acalmou. “Os que estavam no barco prostram-se diante dele dizendo: ‘verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!” (v33).
Meus irmãos e minhas irmãs, Jesus está sempre no nosso meio, mesmo de forma invisível, para nos garantir a vitória, nos conceder a paz. Jesus é o Senhor do tempo, da natureza, da história e tem domínio sobre o mal. Porém, nós, muitas vezes, vacilamos; muitas vezes, não o reconhecemos. Sua presença parece ilusória, deixando a impressão de um grande vazio. Mas, é engano. Jesus está sempre a nos dizer: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”. Coloca-se diante de nós estendendo sua mão para nos reerguer. É preciso reconhecê-lo, acreditar na sua presença no meio de nós. Confiando n’Ele os ventos se acalmam e toda tempestade será transformada em calmaria.
Para superar as desilusões, para saber navegar em águas tranquilas, é necessário fazer uma profunda experiência de Deus, a exemplo de Elias que mesmo dentro de uma gruta, soube identificar a hora que Deus passou e onde Ele estava: no murmúrio de uma brisa suave. Que como o Apóstolo Paulo, possamos reconhecê-Lo acima de todas as coisas.
A família pode ser agitada pelos ventos fortes que sopram de todos os lados provocando ondas gigantescas que ameaçam o naufrágio de suas reais finalidades. Porém, procurando cumprir com fidelidade a missão confiada por Deus, sustentada pela nossa oração, guiada pelo Espírito Santo, continuará sendo para todo ser humano a barca que serve de “base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores os guiarão durante a vida” (João Paulo II).
Quero concluir fazendo um apelo para os pais, cujo dia hoje comemoramos:
Não transmitam medo para seus filhos, e sim, confiança, coragem e amor;
Como Cristo, estendam a mão para o filho que pede socorro ou a sua ajuda;
Não sejam impetuosos como o vento forte;
Não sejam desastrosos como um terremoto;
Não sejam furiosos como o fogo;
Sejam carinhosos, dóceis, calmos e ternos conforme o murmúrio e a leveza da brisa;
Sejam misericordiosos e bons, como Deus que é bom e misericordioso.
Seja verdadeiramente Pai.
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