22 de Setembro de 2014

Homilia – 25º Domingo do Tempo Comum – 21.09.14 ( Is 55, 6-9; Fil 1,20-24-27; Mt 20,1-16 )

A cada semana do mês de setembro, que é dedicado à Bíblia,  somos tocados pela Palavra de  Deus porque sempre nos oferece uma mensagem de fé, de esperança e de aprendizado para a vida que, muitas vezes, devido às nossas limitações humanas, somos inclinados a não praticarmos o bem; a não sermos justos; a sermos ambiciosos e egoístas; a buscarmos aquilo que satisfaz às nossas vaidades, aquilo que gera prazer, aquilo que alimenta o nosso orgulho, aquilo que é efêmero. As leituras bíblicas que ouvimos nos motivam a fazer  uma revisão, dessas reações, desses sentimentos, dessas atitudes, desses procedimentos.

O profeta Isaías nos alerta quanto à necessidade de buscarmos o Senhor e de abandonarmos os projetos injustos que arquitetamos, mostrando que não podem ser pensados como medidas humanas, mas sim segundo os desígnios de Deus. Seguindo a mesma lógica, São Paulo nos alerta dizendo que “só uma coisa importa: vivei à altura do evangelho de Cristo”(Fl 1, 27).

No evangelho  Jesus nos conta uma parábola comparando o Reino do Céu a um patrão que resolve sair de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Os trabalhadores que foram chamados iniciaram o trabalho em horários diferentes; uns mais cedo, outros, mais tarde. Porém, no final do dia, todos receberam a mesmo valor pela jornada de trabalho desenvolvida.  Aqueles que começaram primeiro reclamaram, considerando que a jornada de trabalho foi maior, no entanto,  o patrão justifica que não foi injusto com eles, e, através de seus argumentos, defende o direito de fazer o bem que deseja.

Nós consideramos, conforme a nossa lógica, que o patrão parece proceder injustamente, porém se analisarmos melhor,  perceberemos que o seu modo de agir revela a distinção entre a justiça da nossa sociedade e a justiça do Reino, quer dizer, segundo nossos critérios, cada qual deveria receber pelo que fez, sem levar em conta as necessidades particulares de cada um, nem os motivos pelos quais as pessoas estavam desempregadas após terem perdido tudo o que possuíam, dando razão aos que murmuravam porque estavam inconformados com a igualdade de tratamento que o patrão dispensou a todos sem distinção. A justiça do Reino, de modo contrario, tem o princípio de atender às reais necessidades das pessoas, visando o bem-estar de cada uma e tratando todos do mesmo modo.

Meus irmãos e minhas irmãs, conforme o propósito da liturgia de hoje devemos repensar o  modo de conduzir a nossa vida, de proceder e agir com as pessoas, de julgar e retribuir as suas ações, de recompensar e reconhecer o seu trabalho. Devemos tomar consciência da desigualdade brutal que existe entre o salário de um trabalhador braçal e de um  executivo, de um professor do ensino fundamental e de um político, de um jogador de futebol ou um cantor e de uma pessoa que fez um mestrado ou doutorado e tantas outras comparações que conforme a nossa realidade social e a nossa percepção, poderemos fazer.

A Igreja continuando a missão de Jesus afirma que “o salário, isto é, a remuneração do trabalho, permanece um meio concreto pelo qual a maioria dos homens pode ter acesso àqueles bens que estão destinados ao uso comum, quer se trate dos bens da natureza, quer dos bens que são fruto da produção...

Uma justa remuneração do trabalho das pessoas adultas, que tenham responsabilidades de família, é aquela que é suficiente para fundar e manter dignamente a família e para assegurar o seu futuro. Tal remuneração poderá efetuar-se ou por meio do chamado salário familiar, isto é, um salário único atribuído ao chefe de família pelo seu trabalho, e que seja suficiente para as necessidades da sua família, sem que a sua esposa seja obrigada a assumir um trabalho retribuído fora do lar; ou então por meio de outras medidas sociais, como sejam abonos familiares ou os subsídios para as mães que se dedicam exclusivamente à família, subsídios estes que devem corresponder às necessidades efetivas, quer dizer, ao número de pessoas a seu cargo e durante todo o tempo em que elas não estejam em condições de assumir dignamente a responsabilidade da sua própria vida.

Nesta ordem de idéias, deve realçar-se que, numa visão mais geral, é necessário organizar e adaptar todo o processo do trabalho, de tal sorte que sejam respeitadas as exigências da pessoa e as suas formas de vida,  principalmente da sua vida doméstica, levando em consideração a idade e o sexo de cada uma delas...

Ao lado do salário, entram em jogo aqui, neste ponto, ainda, outras subvenções sociais que têm como finalidade assegurar a vida e a saúde dos trabalhadores e das suas famílias. As despesas relacionadas com as necessidades de cuidar da saúde, especialmente em caso de acidentes no trabalho, exigem que o trabalhador tenha facilmente acesso à assistência sanitária; e isto, na medida do possível, a preços reduzidos ou mesmo gratuitamente” ( Laborem Exercens nº 19).

Conforme podemos constatar nos textos bíblicos e nos ensinamentos da Igreja, a maneira de Deus agir não se iguala a nossa. Ele, ao olhar para cada pessoa, procura atender as suas necessidades vitais.  Sua justiça é carregada de misericórdia, de compaixão e de sensibilidade para atender as reais necessidades da pessoa humana.  Aprendamos com ele a sermos mais justos e mais solidários. Mais sensíveis às necessidades do outro.



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