09 de Março de 2015

Homilia – 3º Domingo da Quaresma – (Ex 20,1-7; 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25)

Estamos no Tempo Quaresma, tempo propício para fazermos uma revisão de vida; uma avaliação de nossas atitudes, ações e procedimentos; uma avaliação da nossa vivência de fé.

Neste 3º domingo, somos motivados pelas leituras bíblicas que escutamos a avaliar a qualidade, a dimensão, o nível da nossa relação com Deus e com os irmãos e, também, nos oferece indicações de como podemos encontrar Deus, como podemos chegar a Ele, como podemos descobrir e encontrar os seus caminhos.

Na primeira leitura, Deus oferece-nos um conjunto de indicações, “mandamentos” que devem direcionar a nossa caminhada pela vida. São indicações relacionadas às duas dimensões fundamentais da nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos.

Os quatro primeiros mandamentos dizem respeito à relação do homem com Deus evidenciando a centralidade que Deus deve assumir no coração e na vida do seu Povo. “[...] condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades [...] e outras criaturas em lugar de Deus” (CIC nº 2112).

Aqui vale uma explicação sobre a relação que fazem destas proibições relacionadas à veneração que fazemos aos santos, acusando-nos de idólatras.  As imagens dos santos, nós sabemos que são deuses, não ocupam o seu lugar. Portanto, nós não praticamos idolatria. As imagens recordam, lembram pessoas que servem de referenciais de santidade, que viveram heroicamente a sua fé e a radicalidade do Evangelho.

“Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que já existe em cima nos céus ou embaixo na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o senhor teu Deus, sou um Deus ciumento que castiga, mas uso de misericórdia. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus.

Na vida de todos nós, no dia a dia somos seduzidos por outros “deuses”, como o dinheiro, o poder, os afetos humanos, bens materiais, os interesses egoístas, as ideologias, os valores da moda – que se tornam o objetivo supremo, o valor último que condiciona os nossos comportamentos, as nossas atitudes e as nossas opções.

Neste tempo de Quaresma, somos convidados a voltarmo-nos para Deus e a redescobrirmos a sua participação fundamental na nossa existência. A descobrir quais são os “deuses” que nos seduzem mais e que condicionam à nossa vida, às nossas tomadas de posição, às nossas opções. A nos perguntarmos que espaço é que reservamos, na nossa vida, para o verdadeiro Deus?

Os mandamentos que dizem respeito à nossa relação com os irmãos convidam-nos a renunciar esses comportamentos que geram violência, egoísmo, agressividade, cobiça, intolerância, escravidão, indiferença face às necessidades dos outros.

“Lembrar-te de santificar o dia de sábado. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.

Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.

Meus irmãos e minhas irmãs, tudo aquilo que atenta contra a vida, a dignidade, os direitos dos nossos irmãos, é algo que gera morte, sofrimento, escravidão, dependência para nós e para todos os que nos rodeiam e é algo que contribui para subverter os projetos de vida e de felicidade que Deus tem para nós e para o mundo. Portanto, devemos nos interrogar e nos perguntar: o que é que, nos meus gestos, nas minhas atitudes, nos meus valores, é gerador de injustiça, de sofrimento, de exploração, de escravidão, de desunião, de divisão, de discórdia, para mim e para todos aqueles que me rodeiam?

O que está em jogo quanto aos mandamentos, não é o respeitar regras “religiosamente corretas”, o evitar que Deus tenha razões de queixa contra nós, ou o fugir aos castigos divinos; mas é, antes de qualquer coisa, o construir a nossa própria felicidade. É preciso aprender a não ver os “mandamentos” de Deus como propostas reacionárias, descabidas e ultrapassadas, inventados por uma moral obsoleta e antiquada, que apenas servem para limitar a nossa liberdade ou para impedir a nossa autonomia; mas é preciso ver os “mandamentos” como “sinais de trânsito” com os quais Deus, no seu amor e na sua preocupação com a nossa realização plena, nos ajuda a percorrer os caminhos da liberdade e da vida verdadeira.

No evangelho que ouvimos, Jesus mostra que ouvindo suas palavras, observando seus gestos, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação.

Quando Ele pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, espalha as moedas e derruba as mesas dos cambistas está a revelar-Se como “o messias” e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a compactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio”.

Neste tempo de Quaresma somos convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar. E somos convidados a sair do nosso comodismo e da nossa autossuficiência para irmos ao encontro do pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta “litúrgica” adequada ao amor e à generosidade de Deus para conosco.

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus… É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de prepotência, mas está na lógica da cruz – isto é, no amor total, no dom da vida até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.

Como o salmista, repetimos: “Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna.

Suas palavras são mais doces que o mel, que o mel que sai dos favos”. Portanto, é da Palavra de Deus que devemos nos alimentar. É a Palavra de Deus que deve iluminar o nosso caminho. É a Palavra de Deus que nos sustenta na caminhada. É praticando os ensinamentos da Palavra de Deus, que nós seremos felizes. Assim seja!



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