15 de Setembro de 2014

Homilia – Festa da Exaltação da Santa Cruz (Nm 21,4-9; Fil 2,6-11; Jo 3,13-17)

É com alegria que nos reunimos a cada domingo, para participar da celebração eucarística aqui, na Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, em comunhão com os milhares de ouvintes da Rádio Excelsior da Bahia e os internautas que, de perto ou de longe, rezam conosco formando uma grande rede de comunhão e de oração. A cada semana, uma nova motivação para celebrar, um renovado ardor espiritual enche o nosso coração de ânimo e esperança, uma nova experiência de fé, a Palavra de Deus nos transmite uma mensagem oportuna e necessária para que possamos continuar fazendo o processo de conversão que possibilitará a graça de trilhar o caminho natural da santidade.

Hoje celebramos a festa da exaltação da Santa Cruz. Uma festa, particularmente, cristã e, liturgicamente, muito ligada à nossa Basílica, uma vez que, foi na cruz que, Jesus, o Senhor do Bonfim, foi crucificado e sua imagem retrata o mistério da redenção, o mistério pascal.  A cruz sobre a qual Jesus sofreu era, originariamente, um instrumento de expiação, de execução dos condenados; era um símbolo da vergonha, pois aquele que morresse em uma cruz era verdadeiramente humilhado. Após a condenação e morte de Jesus, a cruz transforma-se em expressão de doação, entrega, sacrifício, sinônimo do próprio Cristo e da fé cristã; tornou-se sinal de libertação, de esperança dos homens, árvore da vida, arquétipo eminente da ação salvífica de Deus. É sob este horizonte, este ponto de vista, esta perspectiva que meditaremos diante da Palavra de Deus que foi proclamada, tentando mostrar qual o sentido da cruz para nós hoje.

O trecho da primeira leitura é conhecido como o episódio da serpente de bronze. O povo no deserto, devido às dificuldades, fica impaciente e começa a murmurar. “A situação se torna insuportável com o surgimento das serpentes venenosas, que exercem função pedagógica para Israel, levando-o ao arrependimento e suscitando nele a consciência de que só Deus-Javé pode libertar o povo da morte, conduzindo-o a vida.” Moisés intercede e o Senhor responde: “Quem olhar para a serpente de bronze viverá”.

No Evangelho, Jesus dialogando com Nicodemos, mostra a imensidão do amor de Deus e a sua ação salvadora; revela que Deus ama a todos sem distinção. Ele não ama somente um povo. Ele ama o mundo e, que Ele, Jesus, é a personificação desse amor do Pai.  “De fato, Deus não enviou seu filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.” v. 17.

Na segunda leitura, Paulo mostra como Jesus Cristo se fez obediente até a morte na Cruz e, como, por isso, Deus o exaltou e lhe deu um nome acima de todo nome (cf. Fl 2, 6-11).

Atualizando os referidos textos, é possível compreender que assim como a serpente atraiu o povo no deserto, Cristo, na cruz, atraiu todos para Si.  A Cruz passa a ser um grande sinal, um sinal que chama, que convida, que seduz, que fascina para gerar vida, alegria e paz. Sinal de ressurreição e de libertação, sinal de justiça e de amor. Neste sentido, nós somos privilegiados, pois a imagem do Senhor do Bonfim, que veneramos, nesta Basílica, retrata, naturalmente, esta grande verdade. 

Daqui do alto deste altar, como no alto do calvário, Jesus de braços abertos atrai a muitos e acolhe a todos sem distinção. Aqui, quando olhamos para a sua imagem, acontece uma troca de dons; pela fé somos curados de nossas enfermidades e de todos os males do corpo e da alma, somos tocados por sua misericórdia, somos motivados a viver e praticar o mandamento do amor, somos inebriados pela sua ternura e compaixão. O seu olhar penetra o mais profundo do nosso coração, suscitando em nós o desejo de adesão à sua proposta salvadora: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (v 16).

Meus irmãos e minhas irmãs, o Senhor do Bonfim atrai os povos para favorecer o entendimento das línguas, tomando como referencial a força do amor; atrai as etnias para possibilitar a integração, a superação do preconceito, a compreensão e aceitação das diferenças; atrai as diferentes classes sociais para oferecer o dom do discernimento e a sabedoria para encontrar soluções para seus problemas em vista do bem comum, da prática da justiça e da defesa dos direitos humanos; atrai membros de diferentes credos, para tornar realidade a experiência do ecumenismo e do diálogo inter-religioso; atrai pessoas de todas as idades para suscitar em cada um a graça de aproveitar, valorizar a vida como um dom precioso de Deus, que deve ser defendido do seu início a seu declínio final natural; atrai para despertar a fé como virtude sobrenatural necessária a salvação que deve ser vivida com o propósito de coerência, perseverança e fidelidade.

A imagem do crucificado que, nesta Basílica, se venera, transmite ânimo para os tristes e deprimidos, serenidade para os intranquilos, esperança para os que perderam o sentido de viver, paz para quem vive alguma situação de desespero. A imagem do crucificado, que aqui se contempla, expressa a bondade, a misericórdia e a compaixão de um Deus Pai que age com ternura de uma mãe; que continua convidando cada um de nós para prosseguir a nossa caminhada com confiança naquele que nos chamou, fazendo a experiência cotidiana da renúncia, da entrega total da vida e do compromisso com a causa dos mais pobres.

Esta imagem do crucificado é um apelo constante à solidariedade, à partilha e à caridade.  Esta imagem do crucificado faz presente e sempre renovada a espiritualidade da Cruz que a haste horizontal aponta para a realidade do mundo e a haste vertical mostra o caminho do céu.  Nós precisamos viver a fé cristã a partir destes dois parâmetros, isto é, buscando transformar a realidade do mundo com seus desafios, suas dificuldades, seus problemas e suas consequências de miséria, violência e opressão que faz sobressair a cultura da morte e, também, experimentar os sinais de transformações, de conversão, de mudanças e de vida que renovam a nossa esperança.

Seja o madeiro da Cruz que sustenta o Senhor do Bonfim exaltado hoje e todos os dias por carregar firme aquele que por ela salvou a humanidade. Que possamos sempre cantar a vitória da vida, do amor, da verdade, da justiça e da Paz e proclamar com a convicção de que nós vos adoramos, Senhor Jesus, e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. Assim seja!



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