21 de Setembro de 2020

Homilia – 25º Domingo do Tempo Comum


Homilia – 25º Domingo do Tempo Comum

( Is 55, 6-9; Fil 1,20-24-27; Mt 20,1-16 )

A cada semana do mês de setembro, que é dedicado à Bíblia, somos tocados pela Palavra de Deus porque sempre nos oferece uma mensagem de fé, de esperança e de aprendizado para a vida que, muitas vezes, devido às nossas limitações humanas, somos inclinados a não praticarmos o bem; a não sermos justos; a sermos ambiciosos e egoístas; a buscarmos aquilo que satisfaz às nossas vaidades, aquilo que gera prazer, aquilo que alimenta o nosso orgulho, aquilo que é efêmero. As leituras bíblicas, que ouvimos, nos motivam a fazer uma revisão dessas reações, desses sentimentos, dessas atitudes, desses procedimentos.

O profeta Isaías nos alerta quanto à necessidade de buscarmos o Senhor enquanto podemos e de abandonarmos as práticas injustas, as falcatruas, as maquinações, que tramamos contra os outros, mostrando que não podemos agir conforme a lógica humana, mas sim segundo a lógica de Deus. Mostrando que devemos evitar os maus pensamentos, não seguir os maus caminhos, mas como nos alerta São Paulo, viver conforme “à altura do evangelho de Cristo” (Fl 1, 27).

A parábola, que escutamos, segundo Mateus, apresenta o dono de uma vinha que, na madrugada, se dirigiu à praça para contratar trabalhadores para a sua vinha, ajustando com eles o preço habitual de um denário, conforme o costume da época. Porém, o volume de trabalho exigiu que ele voltasse a sair às 9 horas da manhã, ao meio-dia, às três e às cinco horas da tarde para contratar outras pessoas que estavam desocupadas na praça.

Ao anoitecer, começando pelos últimos que foram contratados, todos os trabalhadores foram chamados pelo administrador, a fim de que recebessem igualmente um denário como pagamento pelos serviços prestados.

Achando-se injustiçados, os trabalhadores, que foram contratados nas primeiras horas, manifestaram indignação por terem recebido o mesmo valor que os outros que trabalharam durante poucas horas.

Percebendo a referida reação, o dono da vinha argumentou que ninguém tem o direito de reclamar, uma vez que estava pagando a cada um o valor combinado e que, portanto, não estava cometendo nenhuma injustiça, argumentando que tem o direito de fazer o que quer com aquilo que lhe pertence.

Para entender o referido procedimento e o sentido da parábola, é necessário primeiro compreender que Jesus era criticado e acusado, por seus adversários, de estar sempre próximo dos pecadores, isto é, dos trabalhadores da última hora e de dar-lhes muita atenção.

Segundo, recordar que Jesus tem por objetivo mostrar que a misericórdia e o amor do Pai se derramam sobre todos os seus filhos, sem exceção e por igual. Assim sendo, para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do Reino. Para Deus, não há tratamento “especial” por antiguidade; para Deus, todos os seus filhos são iguais e merecem o seu amor.

A parábola serve também para denunciar a concepção que os teólogos de Israel tinham de Deus e da salvação. Para os fariseus, sobretudo, Deus era um “patrão” que pagava conforme as ações do homem. Se o homem cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria determinados méritos e Deus pagar-lhe-ia convenientemente. Segundo esta perspectiva, Deus não dá nada; é o homem que conquista tudo. O “deus” dos fariseus é uma espécie de comerciante, que todos os dias aponta no seu livro de registos as dívidas e os créditos do homem, que um dia faz as contas finais, vê o saldo e dá a recompensa ou aplica o castigo.

Para Jesus, no entanto, Deus não é um contabilista, sempre de lápis na mão a fazer as contas dos homens para lhes pagar conforme os seus merecimentos; mas é um pai, cheio de bondade, que ama todos os seus filhos por igual e que derrama sobre todos, sem exceção, o seu amor.

A parábola convida-nos a perceber que o nosso Deus é o Deus que oferece gratuitamente a salvação a todos os seus filhos, independentemente da sua antiguidade, dos créditos, das qualidades ou dos comportamentos. Os membros da comunidade do Reino não devem, por isso, fazer o bem em vista de uma determinada recompensa, mas para encontrarem a felicidade, a vida verdadeira e eterna.

A parábola deixa claro que o Reino de Deus é para todos sem exceção. Para Deus não há marginalizados, excluídos, indignos, desclassificados… Para Deus, há homens e mulheres, todos seus filhos, independentemente da cor da pele, da nacionalidade, da classe social, pois Ele ama a todos sem distinção e oferece a salvação a quem Ele convida para trabalhar na sua vinha.

A lógica apresentada na parábola denuncia a concepção de um Deus que contabiliza os créditos dos homens e lhes paga em consequência dos seus feitos. Deus não faz negócio com os homens: Ele não precisa da mercadoria que temos para Lhe oferecer. O Deus, que Jesus anuncia, é o Pai que quer ver os seus filhos livres e felizes e que, por isso, derrama o seu amor, de forma gratuita e incondicional, sobre todos eles.

Deus é um Pai cheio de amor pelos seus filhos, portanto o cristão não faz as coisas por interesse, ou de olhos postos numa recompensa, mas porque está convicto de que esse comportamento que Deus lhe propõe é o caminho para a verdadeira vida. Quem segue o caminho certo, é feliz, encontra a paz e a serenidade, por isso colhe, logo aí, a sua recompensa.

Pe. Edson Menezes da Silva

Reitor da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

E Capelão da Devoção do Senhor do Bonfim



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